Matéria publicada em 5/12/09 no Jornal Aaleparaibano sobre o Aniversario de 364 anos da cidade Taubaté. Também participei da diagramação deste caderno especial.

 Por Mayara Barbosa

Com o segundo maior parque industrial do Vale do Paraíba, cidade ainda preserva seus ares interioranos

Um dos municípios de maior importância na região, Taubaté agrega muitas características que a tornam singular. Uma delas é a forma com que as tradições e costumes adquiridos no passado ainda se fazem presentes no dia a dia de uma população que também aspira ao desenvolvimento e à modernidade.         

A intensa interação entre o antigo e o novo, facilmente percebida devido à quantidade de prédios históricos ao lado de modernos edifícios, faz com que os taubateanos se desloquem sem grandes conflitos pela linha do tempo. “Taubaté convive muito bem com as tradições e novidades, pois há uma harmonia entre elas”, explica a paleógrafa Lia Carolina Prado Alves Mariotto, do Museu Histórico de Taubaté. “Apesar da modernidade, Taubaté não perdeu sua fisionomia, sua identidade”, ressalta.

Um dos traços adquiridos no passado ainda presentes na organização social de Taubaté são as tradições familiares e a perpetuação de um sobrenome a zelar. Ainda hoje existem muitas famílias tradicionais e conhecidas por todos. “Há alguns anos, creio que alguns nomes eram mais enfáticos porque muitos deles fora quase que sinônimos de empresas que sustentaram a atividade comercial de nosso município”, analisa o advogado Amadeu Pelóggia Filho, cuja família, Pelóggia, veia da Itália para a cidade no início do século passado, é uma das mais tradicionais de Taubaté.

Mas, na contramão das tradições familiares, como uma característica das cidades grandes, Taubaté também recebe, todos os dias, um intenso fluxo de pessoas que se dirigem à cidade apenas para trabalhar ou estudar, efetuando a chamada migração pendular. Esse é o caso de Antonio Pedro dos Santos, ferramenteiro, que reside em São José dos Campos, mas trabalha em Taubaté há 26 anos. “Optei por trabalhar aqui porque não encontrei emprego em São José. Além disso, acho que Taubaté tem menos violência, menos poluição e é uma cidade mais tranquila”, afirma.

Durante uma breve caminhada nas proximidades do centro da cidade, também é possível observar a herança de tempos passados nas ruas estreitas e no alto sonar da sirene da antiga torre do relógio, um dos prédios da Companhia Taubaté Industrial, construída na década de 1930 por Félix Guisard, que, de tão incorporado à cultura local, ainda marca o passar do dia para muitos.

No entanto, o apego ao passado não impediu que o município se desenvolvesse, pois, além de ser pioneiro na industrialização no Vale do Paraíba, Taubaté abriga duas das maiores multinacionais automobilísticas presentes no país, além de concentrar a maior quantidade de escolas de nível superior, sendo considerado a Capital Universitária do Vale, o que o torna fonte de conhecimento científico na região. “A união dos segmentos Universidade-Empresa tem destacado nossa cidade como uma geradora de conhecimento e este conhecimento vem sendo transferido para o benefício das pessoas”, ressalta o professor José Roberto Cortelli, pró-reitor da Universidade de Taubaté.   

 Lendas

Em meio a uma vida agitada, fruto do desenvolvimento econômico e intelectual, a população de Taubaté também dá asas ao imaginário, ao transferir a cada nova geração lendas que se perpetuam até hoje no cotidiano.

Uma delas se refere á Santa Cruz, localizada nas proximidades do Convento Santa Clara, onde devotos se encontram todas as segundas-feiras para acender velas e fazer suas orações, pois acreditam receber graças por intermédio da alma de um negro que se chamava Firmino.

De acordo com estudos desenvolvidos por historiadores da cidade, a devoção é uma homenagem ao escravo Firmino que foi assassinado pelo capataz, da fazenda na qual trabalhava, movido por ciúmes e inveja, já que o escravo gozava da confiança de seus patrões. Entretanto, muitos taubateanos desconhecem a história que envolve a curiosa cruz colocada há séculos na calçada, o que, segundo a paleóloga Lia Mariotto, prejudica a transmissão da lenda. “Infelizmente, as lendas estão morrendo, pois muitas pessoas não sabem o verdadeiro motivo de muitas delas”, conclui.